Noel (2014 / 2022)

Eu estava há um ano morando só e o Paulo me perguntou se eu queria adotar um gatinho.

Eu sempre pensava nisso nos últimos anos.

Cheguei lá, e um filhote lindo, cinza rajado, começou a brincar comigo assim que eu cheguei perto.

Como sempre acontece, não fui eu que o escolhi. Fui ele que me escolheu.

Virou Noel porque a manchinha branca no queixo parecia uma barba.

Tenho outros gatos, mas o Noel foi sempre o reizinho, o meu nenenzinho, o que empurrava a minha mão com a cabeça pra eu fazer cafuné.

Noel chegando em casa com a irmã, piquitito, dentro da caixa. Noel não saindo da caixa, mesmo depois de aberta, de tanto medo.

Noel virando meu melhor companheiro, pegando meu jeito, se tornando contemplativo e carente.

Noel fugindo duas vezes, passando dois dias fora, e depois me vendo e me tratando como se nada tivesse acontecido, o safado.

Noel sendo carregado por mim da primeira vez que o achei, e eu falando pra todo mundo que passava “é o meu gatinho, ele tava perdido e eu o achei”.

Noel brigando com os outros gatos, querendo ser macho alfa. Noel miando pra eu colocar gelo na água dele. Noel me olhando pedindo coisas.

Noel dormindo ao meu lado todas as noites. Noel fazendo amizade com a Pauli e com o Rogério. Noel sendo vigiado por mim quando saía pra rua pra comer matinho. Noel, Noel, Noel.

Luka é a Mamacita, Suflê é a Ronrom, Steve é o Bebezão. Só Noel nunca teve apelido. Era só o meu nenenzinho.

Ele estava com o pulmão fraco e não resistiu no hospital veterinário. Tinha 8 anos. Assim como meu irmão humano, meu irmão felino morreu nos meus braços.

Eu tinha frases feitas pra todos os gatos. Pra ele eu dizia que ele era “o meu gatinho, só meu”. Que ele “ia ficar comigo pra sempre, até morrer”.

E ficou 💔