Gênio (por Arthur Rimbaud)

Tradução: Marcos Bagno

Ele é a afeição e o presente pois fez a casa aberta ao inverno espumoso e ao rumor do verão, ele que purificou as bebidas e os alimentos, ele que é o encanto dos lugares fugazes e a delícia sobre-humana das estações. Ele é a afeição e o futuro, a força e o amor que nós, de pé sobre os ódios e desgostos, vemos passar no céu de tempestade e nos estandartes de êxtase.

Ele é o amor, medida perfeita e reinventada, razão maravilhosa e imprevista, e a eternidade: máquina amada das qualidades fatais. Tivemos todo o espanto de sua concessão e da nossa: ó fruição de nossa saúde, impulso de nossas faculdades, afeição egoísta e paixão por ele, ele que nos ama para sua vida infinita…

E nós o evocamos e ele viaja… E se a Adoração vai embora, sua promessa ressoa: “Para trás estas superstições, os corpos antigos, as famílias e idades. Foi esta época que soçobrou!”.

Ele não irá embora, não tornará a descer de um céu, não cumprirá a redenção das cóleras de mulheres e das alegrias dos homens e de todo este pecado: porque isto já foi feito, ele existindo, e sendo amado.

Ó suas respirações, suas cabeças, suas corridas: a terrível celeridade da perfeição das formas e da ação.

Ó fecundidade do espírito e imensidão do universo!

Seu corpo! Ó libertação sonhada, a arrebentação da graça cruzada de violência nova! seu olhar, seu olhar! todas as ajoelhações antigas e as penas resgatadas após sua passagem.

Seu dia! a abolição de todos os sofrimentos sonoros e que se movem na música mais intensa.

Seu passo! as migrações mais enormes que as antigas invasões.

Ó ele e nós! o orgulho mais benévolo que as caridades perdidas.

Ó mundo! e o canto claro das novas desgraças!

Ele nos conheceu a todos e a todos amou. Saibamos, nesta noite de inverno, de cabo em cabo, do pólo tumultuoso ao castelo, da turba à praia, de olhar em olhar, forças e sentimentos cansados, chamá-lo à fala e vê-lo, e mandá-lo embora e, sob as marés e no alto dos desertos de neve, seguir suas vistas, suas respirações, seu corpo, sua luz.

Publicado por

Marcus P

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